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Criadouro Comercial de Fauna Silvestre

Reg. IBAMA 434325 – AM/SEMAS 821225

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CUIDADOS EM CATIVEIRO

 

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Alimentação de boídeos em criação doméstica

 

 

Todas as cobras são essencialmente carnívoras e comem sempre inteiros os animais que matam. Para isso, em vez de uma estrutura sólida no maxilar superior, as cobras desenvolveram um sistema flexível de ossos presos uns aos outros e ao resto do crânio por ligamentos elásticos. Dessa forma a boca pode se abrir o suficiente para ingerir uma presa de diâmetro 2 ou 3 vezes maior que a cabeça da cobra em repouso. A pele também é bastante elástica para suportar a abertura da boca.

 

Outra particularidade é que a traquéia abre-se no assoalho da boca e sua abertura apresenta certa mobilidade, possibilitando seu deslocamento para frente. Assim, no momento da deglutição, a cobra pode continuar respirando normalmente.

 

A alimentação de boídeos em cativeiro consiste basicamente de pequenos roedores, como camundongos e hamsters, ou pequenas aves, como codornas e pintos. Quando as cobras forem adultas podem ser oferecidos cobaias (porquinhos da índia - Cavia porcellus) e coelhos. Os filhotes aceitam camundongos recém-nascidos. À medida que a cobra cresce, deve-se aumentar o tamanho do alimento. De modo geral, o diâmetro da presa a ser oferecida, deve ser compatível ao maior diâmetro da cobra.

 

Deve-se evitar a obesidade do animal, que não é desejada. É possível perceber se a cobra está obesa quando as escamas do corpo estiverem muito separadas umas das outras, deixando à mostra a pele existente entre elas.

 

Sempre observe se a cobra abateu e comeu o alimento que lhe foi oferecido. Nunca deixe o roedor com ela sem a devida observação, pois o mesmo poderá roê-la e até mesmo causar ferimentos sérios, podendo causar até a morte da cobra. Pode parecer inacreditável, mas a cobra pode permanecer estática enquanto o roedor lhe fere severamente.

 

Jibóias e salamantas podem ser alimentadas uma vez por semana ou a cada dez dias em média. Não super alimente o animal a cada vez. Ele pode até aceitar três ou quatro presas, porém, poderá regurgitar caso tenha dificuldades para digerir tudo. E o estresse da regurgitação é muito prejudicial à saúde geral da cobra. Prefira alimentá-las com uma gorda e saudável presa com freqüência regular, a tentar oferecer muitas presas de uma única vez. Mesmo quando o criador tiver que viajar e passar mais de 30 dias fora deve ser oferecida só uma presa a mais do que o habitual, a cobra com certeza estará bem até o retorno do criador.

 

No caso de um recinto abrigar mais de um animal é importante separá-los e observar se todos se alimentam, pois alguns são mais vorazes que outros. Também poderá haver disputa pela mesma presa, o que poderá causar ferimentos mútuos nas cobras.

 

Evite alimentar jibóias e salamantas em seu terrário. Procure ter um “recinto de alimentação”, que pode ser uma vasilha plástica ou um balde com tampa, por exemplo. Isto evita que o recinto fique sujo com o sangue da presa e que o cheiro da presa permaneça no ambiente, causando um estresse desnecessário à cobra, que poderá ficar sempre em alerta. Então, sempre que for alimentá-las, retire-as do terrário e leve-as para o “recinto de alimentação” forrado só com jornal, onde deve estar a presa. Logo após a ingestão da presa, retorne a cobra ao terrário, sempre usando o gancho de manipulação, pois ela estará especialmente ativa.

 

 

Periquitambóias e suaçubóias devem ser alimentadas no próprio terrário, pois como estão sempre enroladas nos galhos ou poleiros, na sua posição característica, e o estresse causado pela ação de retirá-las do lugar pode fazê-las rejeitar o alimento.

 

É importante que o alimento seja oferecido sempre num nível abaixo do que a cobra se encontra, pois o bote comumente é dado de cima pra baixo e geralmente a cobra mata e engole a presa ainda pendurada, segura somente pelo rabo ou região posterior do corpo, comportamento característico de cobras arborícolas.

 

Periquitambóias e suaçubóias, por serem mais sedentárias que jibóias e salamantas, podem ser alimentadas a intervalos maiores, como a cada dez ou catorze dias, com um ou dois camundongos. Eventualmente, na falta de pequenos roedores, podem ser oferecidas pequenas aves, como codornas e pintos.

 

Logo após a alimentação, e ao menos nos dois dias seguintes, evite perturbar ou manipular a cobra, pois ela precisa de tranqüilidade para iniciar a digestão e estará mais sensível. A manipulação neste período poderá levar à regurgitação do alimento e perturbação desnecessária.

 

 

 

 

 

 

 

 

Muda de pele (ecdise)

 

A camada externa da pele da cobra, apesar de dura, desgasta-se após algum tempo, sendo substituída de modo inteiramente diferente daquele que se verifica no caso da fina camada que cobre a pele humana. Nós, seres humanos, produzimos continuamente queratina subepidermal, ao mesmo tempo em que a queratina externa se desgasta. A mudança nas cobras é muito mais abrupta. Quando a camada externa se desgasta, a cobra produz uma nova camada completa. A nova epiderme desenvolve-se debaixo da antiga e só quando está completamente formada é que a pele antiga é abandonada.

 

A cobra, depois de maturar a nova epiderme, quando está preste a perder a antiga, secreta um fluido entre as duas peles, a nova e a antiga, que, então, já não se tocam, dando à cobra uma aparência “leitosa”. Isto pode ser claramente percebido, especialmente nas escamas ventrais e nos olhos, já que o fluido leitoso cobre também as pupilas, tornando a cobra quase totalmente cega. Esta situação pode durar de 3 dias a até uma semana. Durante este período evite o manuseio e não tente oferecer alimento, pois ela provavelmente ira recusar e ficará muito estressada.

 

Ela mudará de pele de um a dois dias depois que esse aspecto leitoso se desfizer. A muda se inicia pelas escamas do focinho e, esfregando-se continuamente, a cobra vai deslizando para fora da pele antiga, que ao final do processo, fica como se fosse uma meia que foi tirada do pé e ficou do lado avesso.

 

Normalmente a muda de pele se dá por inteiro. O processo é lento e elas necessitam de muita umidade durante a muda. Você deverá manter a vasilha de água sempre cheia com água limpa e poderá também pulverizar sobre a cobra um pouco de água, com a ajuda de um pequeno pulverizador, facilmente encontrado em lojas de jardinagem. Isso ajudará a que esta muda seja bem sucedida e tranqüila.

 

A pele não é mudada a intervalos regulares e nem essa troca parece depender do desenvolvimento da cobra. A muda é produzida por uma grande variedade de fatores, como a saúde, a temperatura do ambiente e a quantidade de alimento ingerido. Em média um animal adulto pode trocar de pele três ou quatro vezes por ano, os mais jovens podem fazer esta muda com mais freqüência.

 

 

 

 

Terrário

 

Ao planejar um terrário para um boídeo, devemos considerar um fato importante: ele pode crescer rápido, se bem alimentado. Se possível, compre um aquário de 100 litros para uma cobra jovem. Quando ela estiver adulta, confeccione um terrário de plástico ou de madeira com vidro na frente.

 

Algumas pessoas podem acreditar que uma Jibóia ou salamanta não irá crescer muito se for mantida em um espaço reduzido. Isto não é verdade. Ela continuará crescendo mesmo em um terrário pequeno. Assumindo que você não quer um animal doente, isto é algo que deve ser evitado.

 

Como as Jibóias e salamantas são cobras bastante robustas e fortes, uma tampa resistente e segura deve ser providenciada. Elas sempre tentarão sair do terrário, por isso a tampa deve estar sempre bem fechada e possuir uma trava segura. O terrário também não deve conter superfícies abrasivas e estruturas pontiagudas ou cortantes, que possam machucar a cobra. São comuns os ferimentos no focinho, caso haja orifícios onde elas possam tentar meter a cabeça. Nunca subestime a capacidade de fugir de uma cobra. Elas são especialistas nisso!

 

Basicamente o terrário deve ser à prova de fugas, de fácil limpeza e desinfecção, livre de extremidades cortantes ou abrasivas, ventilado e que possua um ponto de aquecimento em uma das extremidades. Deve-se evitar madeira não impermeabilizada e superfícies porosas, pois são superfícies difíceis de limpar e desinfetar. O comprimento deve ser pelo menos ¾ do comprimento da cobra, a largura corresponder ao menos a 1/3 do comprimento do animal e também possuir uma boa altura, que pode ser a metade do comprimento do terrário.

 

Uma caixa plástica tipo tupeware grande pode ser usada como terrário. De fácil limpeza e peso bastante reduzido, o que facilita o transporte e a limpeza, essas caixas podem acomodar até três jibóias ou salamantas pequenas. Caixas plásticas do mesmo tipo mas de tamanho menor, podem ser usadas para o transporte do animal. Sempre que a cobra for transportada, deve ser levada junto a nota fiscal, que é o documento que comprova a origem e a legalidade do animal.

 

Como substrato, é possível usar carpete de grama artificial ou uma grossa camada de maravalha, porém o mais prático é o velho e consagrado jornal de ontem, que deverá ser trocado sempre que houver necessidade. Troncos e galhos secos podem ser utilizados, pois, além de enfeitar o terrário, elas adoram e precisam escalar. Escolha e posicione galhos fortes o suficiente e com forquilhas para elas se apoiarem. Sem exageros, use o bom senso e procure elaborar um ambiente harmonioso, biologicamente coerente e operacional.

 

O terrário deve possuir um local para a cobra se "esconder". Pode ser um vaso chato de cerâmica emborcado, com tamanho compatível ao da cobra, onde se faz uma abertura lateral, suficiente para ela entrar e sair sem dificuldades. O abrigo pode ser também de papelão ou plástico, porém a cerâmica é melhor, pois mantém a temperatura e a umidade adequadas. Um abrigo manterá a cobra mais calma e tranqüila. Não coloque o abrigo na parte mais quente ou mais fria do terrário, coloque-o no meio. Se possível coloque dois abrigos, um na parte fria e outra na parte mais quente, pois assim ela poderá escolher um dos dois e regular melhor a temperatura de seu corpo.

 

Uma vasilha de água também deve ser providenciada. É fundamental, tanto para que a cobra beba a água, e você irá observá-la algumas vezes se servido desta água, como também para banhos freqüentes. Sendo assim, este recipiente, que deve ser plástico para melhor limpeza e desinfecção, deverá ter tamanho suficiente para que a cobra possa submergir parcialmente. De vez em quando ela defecará dentro da vasilha, isso é normal. Mantenha-a sempre limpa e troque a água diariamente.

 

O terrário para periquitambóias e suaçubóias não precisam ser necessariamente grandes, mas devem ser altos, pois estas espécies possuem hábitos arborícolas e movimentação vertical mais intensa que as jibóias e salamantas. No terrário devem ser dispostos troncos e galhos, ou poleiros, em diversas alturas, permitindo, assim, a movimentação vertical das cobras.

 

Como estas espécies passam a maior parte do dia imóveis enrodilhadas no próprio corpo, em sua posição característica, os galhos devem ter algumas forquilhas para que os animais fiquem mais firmemente apoiados.

 

No fundo do terrário deve haver um recipiente grande com água, pois isso garantirá a alta umidade que estas espécies necessitam. Essa água também será bebida pelas cobras, por isso deve ser trocada diariamente. Eventualmente suaçubóias poderão se banhar nessa água, o que não deverá ser observado para as periquitambóias. Algumas vasilhas menores com água poderão ser colocadas em um nível mais alto, próximo aos galhos, facilitando a ingestão de água pelas cobras.

 

O terrário poderá conter alguma vegetação suspensa (em pequenos vasos, por exemplo), no nível dos galhos onde os animais mais ficam. Essa vegetação será usada pelas cobras como abrigo, garantindo um ambiente mais tranqüilo e seguro para os animais. A espécie de planta mais utilizada é a conhecida “jibóia” (Sindapsus aureus), uma trepadeira bastante comum e de fácil manutenção, que possui uma coloração verde esmeralda, o que ajuda as periquitambóias e suaçubóias a se camuflarem.

 

 

Aquecimento

 

Como as jibóias e salamantas amazônicas são originárias de área quente e úmida, a boa regulagem de temperatura e umidade é fundamental para manter o animal sempre saudável. Durante o dia, a temperatura deverá ser por volta de 29C° e durante a noite, 25C°. O terrário das periquitambóias e suaçubóias deverá ter a temperatura variando de 24ºC a 27ºC.

 

Lembre-se que as cobras são animais de sangue frio e regulam a sua temperatura interna através do ambiente. Elas movem-se constantemente para manter seu corpo na temperatura ideal. A existência de uns pontos suavemente frios e outros um pouco mais quentes no terrário propiciará um ambiente onde a cobra escolherá o melhor local para termorregular (regular sua temperatura interna).

 

Placas aquecedoras ou pedras térmicas com termostatos podem ser utilizadas e devem ser mantidas na metade ou em 1/3 do terrário, proporcionando uma parte fria e outra quente. Lâmpadas incandescentes também podem ser usadas, colocadas abaixo do terrário em uma das extremidades. Deve-se evitar que a luz reflita para dentro do terrário.

 

O uso de pedras aquecedoras sem termostato deve ser evitado, pois elas esquentam demais e a superfície da pedra pode ficar muito quente em relação à temperatura ambiente, o que pode provocar graves queimaduras no animal.

 

Procure instalar ao menos dois termômetros em seu terrário, um em cada extremidade, buscando monitorar a variação e o gradiente de temperatura criado no interior do seu terrário. Importante que estes termômetros estejam bem posicionados e fixados, para que nas incursões da cobra eles não sejam deslocados ou quebrados.

 

Se você reside em uma região de clima quente, provavelmente não haverá necessidade de fontes artificiais de calor. Caso resida em regiões com épocas frias, providencie o aquecimento para o terrário de forma planejada e sempre monitore o que se passa no seu interior. Nunca tente adivinhar a temperatura, é preferível não usar nenhuma fonte de calor a usar uma de maneira incorreta ou irresponsável.

 

A vasilha com água deve ficar na parte "não aquecida" do terrário para evitar o excesso de umidade. A sua simples presença já é suficiente para a jibóia ou salamanta se banhar quando julgar necessário.

 

Iluminação

 

Um período de iluminação consistente e regular, ajuda em muitos fatores como a hibernação, o descanso e o bem-estar. As jibóias e salamantas são animais de hábitos parcialmente noturnos, geralmente mais ativos no fim do dia e à noite, precisando apenas de uma fraca luz para diferenciar a noite do dia, respeitando o fotoperíodo a que estão acostumadas e que precisam para manter o seu biorritmo natural. Uma ótima maneira de se fazer isso, é colocar o terrário próximo a uma janela. NUNCA EXPONHA O TERRÁRIO AO SOL DIRETO!

 

Cobras não necessitam de luz ultravioleta e não metabolizam nutrientes através da luz solar. Sendo assim, não é imprescindível ter “banhos de sol”, muito pelo contrario, pode ser muito arriscado a exposição excessiva ao calor do sol, o que pode inclusive matar o animal. As cobras têm uma tolerância maior às temperaturas abaixo do seu ideal, do que àquelas acima. A permanência em altas temperaturas sem que tenha a possibilidade de se proteger ou evitar, pode levar a cobra ao óbito rapidamente.

 

 

 

 

 

Manuseio

 

Deve-se segurar o corpo do animal por igual, mantendo-o por inteiro apoiado. Evite movimentos bruscos, segurar sua cauda e não trate a cobra como um brinquedo. Seja tranqüilo ao manuseá-la. Transmita segurança para ela, pois estas cobras mordem porque se sentem em perigo não porque são más.

 

Procure adquirir ou mesmo confeccionar um gancho para manipular a cobra. Esse gancho nada mais é que um cabo de madeira ou alumínio de aproximadamente 50 cm de comprimento, ou de acordo com a sua vontade, que possui na sua extremidade uma haste de metal dobrada em L.

 

Com o gancho você pode manipular a cobra sempre que tiver que tirá-la do terrário, logo depois de alimentá-la e sempre que melhor lhe convier. Procure usar o gancho toda vez que retirar o animal do terrário e só depois pegue com as mãos, suavemente até a cobra passar naturalmente para você. Antes de pegá-la deixe que ela o veja e sinta seu cheiro. Não a pegue distraída, ela pode se assustar e morder.

 

Jibóias toleram o manuseio e gostam da convivência com pessoas mais do que as periquitambóias, suaçubóias e salamantas. Portanto, deve-se manusear essas três espécies com mais cuidado e atenção. Deve-se evitar também passar a mão próximo à cabeça de uma cobra, seja ela qual for, pois esse simples movimento pode "disparar" um bote. É totalmente desaconselhável aproximar a cabeça de uma cobra do rosto de uma pessoa, pois uma mordida próxima aos olhos (ou em um deles) ou aos lábios é muito mais difícil de tratar e de maior gravidade, do que uma mordida no braço ou na mão.

 

Sempre manipule a cobra para que ela se adapte ao manuseio e se acostume com você, seu cheiro e seu modo de manipulá-la. Evite o manuseio logo após a alimentação da sua cobra e quando ela estiver para trocar de pele, principalmente quando ela já estiver com os olhos opacos, pois neste período ela estará se sentindo muito vulnerável e, como estará com a visão limitada, poderá desferir botes em sua direção e não aceitará a manipulação com muita tranqüilidade.

 

Jamais manipule roedores ou outro possível alimento antes de manipular a cobra, pois o cheiro destes animais ficará em você e será facilmente percebido por ela, gerando uma situação que poderá levar a possíveis mordidas. Lave bem as mãos antes de segurar a cobra.

 

 

 

 

Saúde de boídeos em criação doméstica

 

A prevenção de doenças é o procedimento mais lógico, mais econômico e mais eficaz quando se considera a saúde animal. A higiene adequada é imprescindível para a manutenção de cobras ou qualquer outro animal em cativeiro. Recomendamos que a limpeza dos terrários seja freqüente e a troca da água de beber seja diária. As fezes e urina devem ser retiradas tão logo sejam produzidas.

 

A limpeza deve ser feita retirando-se os jornais sujos, ou o outro substrato utilizado, e com a utilização de água e sabão com auxílio de esponja, pano ou escovas. Após a limpeza é recomendado fazer uma desinfecção e para isso pode-se utilizar o hipoclorito de sódio (água sanitária) diluído a 3%. De modo geral, a saúde de uma cobra criada em cativeiro pode ser mantida com os cuidados básicos de higiene e com alimentos de qualidade.

 

Um problema possível é a muda encruada (retida) ou disecdise, que corresponde a uma anormalidade no processo de muda. Os fatores responsáveis podem ser uma baixa umidade no terrário, ectoparasitos (carrapatos) e até uma disfunção da glândula tireóide, cuja principal conseqüência é uma possível infecção cutânea e a perda de apetite da cobra. Se a retenção de pele ocorrer, a mesma poderá ser retirada manualmente pelo criador. O procedimento é feito com banhos de água morna com camomila. Isso mesmo, imersão da cobra em chá de camomila! Esse chá pode ser encontrado em supermercados e feiras, e o banho deve durar pelo menos meia hora, até que a pele retida esteja amolecida. Então, com leve massageamento no sentido cabeça-rabo, puxa-se a pele velha até sua total retirada, tomando-se o cuidado para não danificar a pele nova. Outro cuidado básico e importantíssimo é com a temperatura do chá, que deve estar apenas levemente morno. Coloque sua mão no chá e veja se é tolerável como um bom banho de ducha. Não vá escaldar nem cozinhar a cobra!!!

 

 

 

Outras preocupações são com carrapatos e endoparasitos (internos), que podem ser evitados não permitindo a entrada de novos animais no terrário sem uma prévia quarentena e exames minuciosos. Neste caso, vermífugos devem ser administrados somente por um veterinário especialista em répteis ou animais silvestres.

 

Medicamentos específicos para répteis são difíceis de serem encontrados, mas pode-se usar com sucesso diversos medicamentos para suínos e para o gado. Entretanto, a dosagem utilizada nos répteis é diferente e varia de acordo com o grupo e a espécie a ser tratada.

 

Zoonoses são uma preocupação praticamente inexistente com répteis. É obvio que répteis podem transmitir doenças aos seres humanos, principalmente aquelas ligadas à falta de higiene do manipulador, mas se compararmos com os outros animais domésticos, os répteis são de longe os mais seguros animais domésticos que existem. Devido à grande distância evolutiva que nos separa dos répteis, as doenças que acometem um praticamente não acometem o outro. Portanto do ponto de vista zoonótico, os répteis são considerados muito seguros.

 

 

 

 

Acidentes (mordidas)

 

Os boídeos possuem duas fileiras de dentes na mandíbula (inferior) e quatro fileiras na maxila (superior) e seus dentes são pontiagudos e recurvados para trás. Suas principais funções são capturar e segurar a presa, já que as cobras não mastigam seu alimento. Os dentes, além de suas funções de captura, apreensão e auxílio na deglutição da presa, são a principal, e praticamente única, “arma” de defesa desses animais.

 

Acidentes com mordedura são possíveis de ocorrer e não deixam de fazer parte da atividade de criação. Devemos ter esta consciência e saber evitar ou lidar com o infortúnio de levar uma mordida de uma cobra que criamos.

 

Uma jibóia criada desde o nascimento, sendo manipulada com freqüência, torna-se um animal dócil e dificilmente desferirá botes de ataque naquele que a estiver manipulando. Basta que os preceitos básicos de respeito e segurança sejam levados em consideração, conforme citados no tópico “Manuseio”.

 

Apesar de tomar todos os cuidados o criador poderá um dia levar uma bela mordida. Um detalhe importante: como a única função da mordida é de apreensão, pode ter certeza que ela irá morder e ficará com a boca fechada. Tenha tranqüilidade e evite puxar bruscamente a mão ou o braço no ímpeto de se livrar da situação indesejada, pois os dentes, que são voltados para trás, irão ferir mais ainda, agravando a lesão. Procure abrir a boca da cobra e retirá-la com calma, minimizando os ferimentos e não machucando o animal.

 

O ferimento deve ser lavado imediatamente com água corrente e sabão. Após seco o ferimento passe algum antibiótico tópico, como a Rifocina® spray, por exemplo. Limpe o ferimento e passe o antibiótico diariamente, ao menos por quatro dias. A boca de qualquer animal, inclusive a nossa, é rica em microorganismos que, encontrando uma ferida aberta, logo vão se instalar e causarão uma desagradável infecção. Por isso a limpeza e curativo devem ser feitos imediatamente após a mordida.

 

Os dentes dos boídeos não possuem raízes e não são fortemente presos aos ossos do crânio. São substituídos sucessivamente ao longo da vida do animal. Devido a esta outra peculiaridade, não se surpreenda se algum dente ficar preso no ferimento depois de uma mordida. Guarde-o como um “troféu” e continue dando carinho ao seu animal.


Além da experiência diária na criação de boídeos, as informações aqui apresentadas foram coletadas na seguinte bibliografia:

 

CUNHA, Osvaldo Rodrigues & NASCIMENTO, Francisco Paiva de, 1978. "Ofídios da Amazônia. X - As cobras da região leste do Pará". Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, 218 p. (Publ. Avulsas, 31).

 

FRANCISCO, Luiz Roberto, 1997. "Répteis do Brasil: manutenção em cativeiro". São José dos Pinhais: Amaro. 208p.

 

MEHRTENS, John M., 1987. "Living Snakes of the World in Color". Sterling Publishing Co., Inc. New York.

 

ROGÉ, Jean-Pierre & SAUVANET, Jany, 1987. "Les Serpents". La Documentation Guyanaise. Cayenne: Saga.

 

ROSS, Richard A. & MARZEC, Gerald, 1990. "The Reproductive Husbandry of Pythons and Boas". Institute for Herpetological Research, Stanford, California.

 

STIDWORTHY, John, 1993. "Serpentes". 3ª Edição, São Paulo: Melhoramentos - (Prisma).